domingo, 20 de março de 2011

"Juntei minha viola com o pandeiro dela"♫ - O samba na obra de Roberto Carlos - Parte 1

Olá Súditos!

Hoje, domingo, dia 13 de março de 2011, estamos de volta, para dar continuidade a este blog. Depois de intensas emoções de Roberto Carlos na Sapucaí, e dos fãs acompanhando-o, surgiram, certamente, interrogações na mente de várias pessoas: o que Roberto Carlos tem a ver com samba?

Nem o próprio Roberto considera que tenha trabalhado tanto com o samba. Em uma entrevista, em 1987, na época em que foi homenageado pela escola Unidos do Cabuçu, o Rei comentou seu lado sambista: "Eu jamais imaginei ser homenageado em uma escola de samba, logicamente eu não sou um cantor de samba. Gosto de samba, já gravei alguns sambas durante minha carreira, mas não sou um sambista, né?" E na mesma entrevista, ao ser perguntado se romantismo combinava com carnaval, o Rei respondeu: "O romantismo combina com qualquer ritmo... Os sambas mais agitados estão aí falando de amor..."

Então, vem a pergunta: o que Roberto Carlos tem a ver com samba? A resposta é: TUDO! E a matéria de hoje tem por objetivo, justamente, falar sobre a presença do samba na obra de Roberto Carlos.

Um "João e Maria" pra lá de moderno!
Podemos considerar que a carreira de Roberto Carlos se iniciou em 1950, quando, aos 9 anos, o futuro Rei cantou um bolero na Rádio Cachoeiro do Itapemirim, na sua cidade natal, no ES. Ali na rádio, a relação de Roberto com o samba já engatinhava: sambas-canções de Nelson Gonçalves eram constantes no repertório de Zunguinha, como Roberto era conhecido quando criança.

Em fevereiro de 1959, já morando no Rio de Janeiro, Roberto Carlos foi contratado para trabalhar na Boate Plaza. Ali inicia-se, oficialmente, sua carreira. O próprio Roberto considera esta contratação como o marco do início, pelo fato de ser a primeira vez que ele usou a música profissionalmente. E ali no Plaza, a sua relação com o samba era ainda maior. Todas as vezes que ia cantar, Roberto cantava sambas, dos mais diversos. Inclusive, foi lá a primeira vez que ele cantou uma música de autoria de Erasmo Carlos. A música se chamava, justamente, Maria E O Samba. Nem é preciso dizer a qual estilo musical ela pertencia, né? Clique aqui para saber mais sobre o tempo em que RC trabalhava na Boate Plaza.

Cada vez mais ligado ao samba, no Plaza, Roberto foi se aproximando, também, da bossa nova, e, apesar de declarações várias dele e de Erasmo Carlos afirmando não terem feito parte do grupo de samba-bossa nova, foi o que Roberto produziu, naquele período, a virada dos 50 para os 60. No seu primeiro disco, por exemplo, em julho de 1959, foram lançadas duas canções. Dois sambas. O primeiro, de autoria de Carlos Imperial e Roberto Carlos, João E Maria, contava a história dos dois de um modo bem moderno. A letra dizia que João convidava Maria para o bosque, para passear, mas ela não sabia suas verdadeiras intenções. Como ele mesmo resume, "o tal passeio foi de araque". Você pode ouvir esta canção clicando no Play.
João E Maria - Roberto Carlos e Carlos Imperial - Editora Amigos - Gravadora Polydor


A segunda faixa, do outro lado do disco, tinha uma função bem metalinguística, pois tratava-se de uma canção de bossa nova satirizando a própria bossa nova. Fora Do Tom falava que "o tom que vocês cantam, eu não posso nem falar, nem quero imaginar, que desafinação! Se todos fossem iguais a vocês...", em um samba bem leve e gostoso. Este disco, um 78 RPM, foi o único lançado por Roberto Carlos fora de sua atual gravadora (Sony).

Em 1960, já na CBS (atual Sony), Roberto gravou duas canções. Mais uma vez, dois sambas: Canção Do Amor Nenhum e Brotinho Sem Juízo. A primeira, um samba mais original, com direito a cuíca e tudo, e, novamente, satirizando canções de bossa nova. Desta vez, Canção do Amor Demais, de Tom Jobim. Mas a última, Brotinho Sem Juízo, foi a que chegou a fazer um relativo sucesso, e foi a primeira canção de Roberto Carlos que chegou à lista das 50 mais tocadas em rádios em um ano. Em 1960, ela foi a 50ª mais tocada. A partir dali, Roberto aparecia na lista várias vezes, inclusive, algumas em primeiro lugar, como em 1964 (com O Calhambeque), em 1966 (com Quero Que Vá Tudo Pro Inferno) e 1971 (com Detalhes).

Em 1961, Roberto Carlos gravaria o samba Chorei, de Carlos Imperial, e, a partir dali, tomaria outro caminho, deixando o samba um pouco mais de lado. Roberto só voltaria a revisitá-lo em ocasiões mais raras.

Nasceu Maria, no carnaval...
Alguns anos sem trabalhar com o samba, Roberto Carlos voltaria a visitá-lo por conta de festivais nos quais ia se apresentar. O primeiro festival que recebeu Roberto como concorrente foi o primeiro Festival da TV Record, em 1966, antes mesmo do famoso, de 1967. Naquele 1966, por ser contratado da emissora, Roberto foi escalado para defender duas canções. Flor Maior, do compositor Célio Borges, e Anoiteceu, de Vinícius de Moraes e Francis Hime. No caso desta última, foi o próprio Vinícius quem escolheu Roberto Carlos. Infelizmente, Anoiteceu foi eliminada na primeira noite, deixando o Rei bastante desapontado.

Na noite seguinte, Roberto foi cantar Flor Maior, e foi ovacionado, levando a canção até a final. Não levou o festival, mas foi o responsável por sua grande audiência.

Em 1967, a TV Record novamente fez o Festival, que agora já era respeitado na mídia. Aquele de 1967 se tornaria histórico, sendo, até mesmo, tema para filmes, como Uma Noite em 67, lançado em 2010. E ali, naquele festival, Roberto cantaria mais um samba. Desta vez, de Luiz Carlos Paraná, Maria, Carnaval e Cinzas, que denunciava a mortalidade infantil. A canção conta a história de uma menina que nasceu no início do carnaval, e morreu na quarta-feira de cinzas. A canção foi o maior sucesso de vendas de todos os festivais produzidos pela TV Record.

Ainda em 1967, em meio a uma polêmica alimentada pela mídia de que cantores de rock e de Jovem Guarda não gostavam de samba, e vice versa, chegando a ter brigas com sambistas. Como era de costume naquele período, não passavam de boatos. E, para neutralizar esses boatos, Roberto Carlos decidiu convidar para o seu programa, o Jovem Guarda, um sambista conhecido e tradicional, e prestasse a ele uma homenagem. Roberto iria ainda gravar uma canção daquele compositor, para mostrar que a turma da Jovem Guarda não tinha preconceito com ninguém. O compositor escolhido foi Ataulfo Alves.

Em um domingo de 1967, Ataulfo Alves participou do programa Jovem Guarda, cantando uma música de Roberto Carlos. Roberto, por sua vez, cantou uma de Ataulfo. E, em seguida, os dois cantaram juntos Ai Que Saudades Da Amélia, samba de autoria de Ataulfo Alves em parceria com Mário Lago. Algum tempo depois, seria lançada a gravação de Roberto para o samba, que, inclusive, tem a sua idade. Ai Que Saudades Da Amélia foi composta em 1941, ano de nascimento do nosso cantor.

A gravação rendeu muitos elogios da crítica ao rei do iê-iê-iê, e foi muito produtiva, também, para Ataulfo Alves: seu nome voltou à mídia, e ele lucrou com direitos autorais.

Próxima Matéria
Próximo domingo estaremos de volta, e continuaremos falando da relação de Roberto Carlos com o samba: Onde ele surgiu em sua discografia e em seus especiais de final de ano.
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1 comentários. Clique aqui para comentar!:

C. Marley disse...

Nobre colega James,

O carnaval passou, mas o samba continua. Vamos nessa!

Um grande abraço